Depois de ganhar fama por censurar páginas que fazem alusão à nudez, o Facebook ainda tem dificuldades de conter fanpages brasileiras que incentivam o crime. Uma delas é “Dina Terro Dos Policia”, do traficante Dina, que se diz membro do Comando Vermelho, uma organização criminosa que atua no Rio de Janeiro. Entre as fotos empunhando pistolas e fuzis, ele se gaba de ter participado de uma “guerra” contra a favela vizinha em setembro de 2012.
Sem qualquer constrangimento, o rapaz devolve os elogios de seus 1.237 admiradores, além de receber e devolver ameaças. Em um dos posts, um comparsa ironiza a recompensa de R$ 2 mil oferecida para quem entregar Dina à polícia. “R$ 2 mil?”, pergunta o bandido antes de lembrar que a cabeça de um “cagueta” vale R$ 10 mil no morro.
No ar desde maio do ano passado, a página só foi banida na tarde desta quinta-feira depois que o iG solicitou explicações ao Facebook. A empresa não tem um representante brasileiro que responda por sua política de censura e também se nega a comentar qualquer fanpage mesmo que ela incentive o assassinato sumário de bandidos.
Só com o título “Bandido Bom é Bandido Morto” há seis páginas. A mais acessada tem 1.699 admiradores, que postam fotos de supostos delinquentes executados principalmente pelas mãos da polícia. O autor anônimo dedica a “fanpage para quem não tem pena de bandido”.
O Facebook afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que não divulga estatísticas sobre páginas que saem do ar. A rede social diz que “relatos de conteúdo ofensivo são seriamente analisados e é por isso que, além dos links para reportar conteúdo, também oferecemos ferramentas de denúncia social e o painel de suporte”.
Especialista em Direitos Humanos, Rodrigo Nascimento, do Observatório de Favelas, diz que é clara a “apologia ao crime [no Facebook] e isso tem de ser visto aos olhos da legislação maior que temos”. De acordo com ele, esse “é um caso de segurança pública, acontece nas favelas, acontece também no mundo virtual, até que alguém denuncie”.
Nascimento acredita que “o Facebook também deve tomar uma providência” porque o espaço virtual "é ambiente fértil para coisas do gênero".
Nudez
Embora sua política de “revisão” demore para banir quem faz apologia ao crime, o Facebook ficou bastante conhecido por censurar a nudez, especialmente feminina. Em setembro do ano passado, por exemplo, uma charge publicada pela revista “The New Yorker” foi retirada do ar. A justificativa é que o desenho ilustrava os seios de Eva, que conversava com Adão sob uma macieira.
Em novembro de 2012, o Facebook também censurou a foto de uma menina que tomava banho em uma banheira. A página saiu do ar porque a rede confundiu o cotovelo da garota com um de seus seios.
Também ficou conhecida a história da psicóloga chilena Leslie Power (37), que em 2011 descobriu que foi afastada da rede social porque na foto de seu perfil ela aparecia amamentando o filho de três meses.
"Lobo da Insanidade"
Apesar de afirmar que sua “equipe multidisciplinar removerá prontamente aquilo que violar os nossos termos”, o Facebook ainda não tomou providências contra a página “Lobo da Insanidade”, alvo de reportagens. A fanpage é conhecida por publicar frases como "estuprar é arte, traumatizar faz parte" e "respeite as cotas: de cada cinco que você estuprar, uma tem que ser deficiente".
Questionado sobre o sucesso desse conteúdo no Facebook, o delegado Gilson Perdigão, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) no Rio de Janeiro, afirmou que “vem investigando e retirando do ar páginas e perfis de pessoas que fazem apologia ao crime”.
Ainda segundo o delegado, a página do traficante Dina tem o perfil omitido. “A delegacia já oficiou a rede social para que a mesma informe o IP utilizado para a criação da página, bem como o de todos aqueles perfis que têm trocado mensagens que fazem apologia às drogas. A DRCI esclarece ainda que todas as pessoas que estiverem usando a internet para este fim podem responder pelos crimes de apologia e associação para o tráfico.”
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